Direitos e respeito para as bandeiras do arco-íris

Por Renato Perboni,

“Por mais que tenha havido avanços na questão da conquista de alguns direitos, o Brasil ainda é um dos países mais homofóbicos e transfóbicos do mundo”. A afirmação da professora Grazielle Tagliamento, do curso de Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná, reflete uma dura realidade enfrentada por uma parcela considerável da sociedade.

Em janeiro de 2016, dados divulgados pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) em seu portal “Quem a Homotransfobia matou hoje”, 319 pessoas LGBT foram mortas por crimes de ódio em 2015, sendo os gays as principais vítimas (52% do total), seguidos pelas travestis (37%), lésbicas (16%) e bissexuais (10%). Heterossexuais confundidos com gays (7%) e amantes de travestis (1%) entram nessa tenebrosa estatística. Dentre as vítimas, cerca de 58% eram menores de 29 anos e 21% eram menores de 18.

Vista com preconceito por parte dos brasileiros, com destaque para aqueles que seguem conceitos que creem só em “homem e mulher” como casal, a homossexualidade diz respeito a orientação sexual, ou seja, o desejo sexual e/ou afetivo por pessoas do mesmo gênero, algo que por muito tempo era visto como uma doença ou distúrbio mental. Foi só em 1990 que a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou essa visão de sua listagem, porém ainda são muitos os que mantêm essa visão, afirmando que tais atos seriam uma “afronta a moral e aos bons costumes”.

Identidade

A homossexualidade é apenas uma dentre os diversos tipos de sexualidade, sendo os mais conhecidos a heterossexualidade – atração por pessoas de gêneros diferentes -, a bissexualidade – atração por ambos os gêneros – e a própria homossexualidade. Agora, quando falamos de transsexualidade, o assunto muda um pouco. “A transsexualidade e a travestismo correspondem à identidade de gênero da pessoa. É o gênero com o qual a pessoa se identifica, é o gênero da pessoa. Não havendo na prática da vivência das pessoas travestis e transexuais diferenças, ambas buscam viver conforme o gênero com o qual se identificam, independentemente se desejam ou não fazer a cirurgia de transgenitalização. Sendo essas duas categorias correspondentes à identidade de gênero, uma pessoa travestis ou transexual pode ser heterossexual, homossexual e bissexual”, diz a professora Grazielle.

Uma pesquisa realizada pelo IBOPE em março de 2013 revelou que cerca de um terço dos homossexuais não se assume por medo do preconceito, seja de família (31%), colegas de trabalho (33%) ou mesmo amigos próximos (12%). Ainda dentro desses patamares, há aqueles que tem medo da rejeição (57%), serem expulsos de casa (14%), vergonha (12%), medo de perder o emprego (8%) ou mesmo por motivos religiosos (4%).

Para Clodoaldo Barbosa Braga Neto, 22, estudante de História, a aceitação por parte da família foi um tanto conturbada”. A primeira pessoa que contei sobre minha orientação sexual foi minha mãe, de início foi bem difícil, mesmo ela sabendo (Eu sou da teoria de que mãe sempre sabe) foi um momento de adaptação para ela. Hoje vivemos harmonicamente nesse sentido, já o resto da família se tornou um espaço bem dividido, alguns aceitando numa boa, enquanto outros repudiam. Na minha visão os que repudiam só tem a perder. No caso dos amigos eu posso dizer que sempre tive um enorme privilégio em conhecer pessoas que me apoiaram e foram realmente anjos na minha vida. Claro que sempre tem um ou outro que não vão querer nem ficar perto de mim, mas são casos bem raros”, diz.

Caroline Dias, 21, estudante de Jornalismo, conta que teve obstáculos como a fé religiosa para contar aos outros sobre sua orientação sexual. “Eu nunca realmente contei pra minha família, por exemplo. Minha família é, em sua maioria, da igreja evangélica e eu também ia na igreja, por isso eu nunca quis me assumir. Mas quando contei aos meus amigos e eles me deram o maior apoio, me senti mais confiante. Na família, os únicos que sabem de verdade são meus pais e, agora, eles não ligam, mas antes, minha mãe me mandou ao psicólogo. ”

Preconceito

Uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP) em 2014 revela que a cada 10 homossexuais, 7 já sofreram algum tipo de agressão, física ou verbal, e de acordo com dados da ONG Transgender Europe, de 2008 a 2015, o Brasil ocupa o 1º lugar no número de mortes em decorrência da transfobia e homofobia, atrás apenas do México e dos Estados Unidos.

Caroline conta que nunca sofreu agressões de nenhum tipo, mas sente-se muito incomodada quando está em algum lugar e alguém- geralmente mais velho – a encara ou cochicha com outras pessoas sobre ela.

Clodoaldo, por outro lado, diz que depois de ter “se descoberto” aos 11 anos, o processo foi um pouco bruto. “Principalmente no ensino fundamental sofri todo tipo de agressão física e verbal dos meus colegas de classe, tanto que houve anos que troquei duas vezes de colégio por não ter me ‘adaptado’. Essa exclusão, repressão e agressão atrapalharam muito minha vida escolar, e conforme foi chegando o ensino médio, as coisas foram abrandando, mas sempre havia uma piadinha de mau gosto, e sempre acabava como alvo de chacota. Mas como disse anteriormente, não acontece só comigo, já aconteceu de amigos meus que quando se assumiram apanharam tanto de algum ente familiar que chegaram a parar no hospital, e infelizmente é mais comum do que se imagina”, conta.

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