A vítima nunca é culpada

maria letícia

Por Maria Letícia Fagundes

A luta pelos direitos das mulheres e contra a violência de gênero deve ser fortalecida diariamente. Infelizmente é um problema global e a luta é árdua, mas recompensadora quando pensamos que estamos salvando vidas. A impressão é de que está aumentando cada vez mais os casos de estupros coletivos e feminicídios, não é mesmo? Mas eu me pergunto: será que não é a imprensa que cada vez está noticiando mais, expondo os agressores? Digo isso, pois na minha carreira como médica legista, atendendo as vítimas de violência doméstica no Instituto Médico Legal do Paraná, posso afirmar que esses casos são frequentes.

Quando falamos sobre o assunto, quando a imprensa começa a tratar de forma certa os abusos e os casos de violência e a polícia começa a entender que a vítima não é a culpada, começamos a mudar a base machista. Quando educamos nossos filhos de forma esclarecida, ressaltando a igualdade de direitos e respeitando as diferenças de gênero, estamos mudando esta realidade.

Mas ainda é muito preocupante a situação que não é isolada: quando a mulher já apresentou a denúncia contra o agressor, têm a medida protetiva e mesmo assim ele consegue atingí-la e até mesmo matá-la. Até quando a nossa justiça vai ser ineficiente? Não adianta termos leis que nos ajudem (Lei Maria da Penha 11.340), mas um sistema que não está preparado para colocá-las em prática. Um sistema que também está corrompido pelo pensamento machista.

O que me impressiona também é a culpabilização da vítima e o despreparo que as pessoas ainda têm em lidar com a situação. As mulheres têm vergonha de falar sobre o assunto porque se sentem culpadas pelo que aconteceu. Errado! A vítima nunca é culpada e sim o agressor.

Então, se você foi vítima de abuso sexual, saiba que não teve culpa. Culpar a vítima é uma forma de calar a nossa voz e o agressor não ser punido. Por este motivo é preciso trabalhar para que as mulheres se encorajem e denunciem cada vez mais os agressores e estupradores. Porém ainda é um trabalho em construção e deve partir de todas nós para acabar com a “cultura do estupro”, que tanto se ouve falar.

A “cultura do estupro”, em outras palavras é a perpetuação do pensamento machista tão enraizado na nossa sociedade desde a colonização brasileira. É uma maneira de pensar que foi incutida na cabeça das pessoas há muitos anos e mudar isso não é fácil, mas temos que começar de alguma maneira. Acreditamos que o melhor caminho é a informação e a denúncia. Faça a sua parte, denuncie, disque 180.

Maria Letícia é ginecologista, legista do IML-PR e vereadora pelo Partido Verde em Curitiba. Acompanhe o mandato no site http://www.vereadoramarialeticiafagundes.com

 

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