Epidemia da Sífilis

Por Luna Gomes,

De acordo com o Boletim Epidemiológico de 2016, os casos de sífilis adquirida aumentaram para 227.663 entre o período de 2010 a 2016, através de dados notificados pelo Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN). A sífilis em gestantes teve aumento de 169.546 entre o período de 2005 a 2016 e a sífilis congênita em menores de 1 ano de idade cresceu 142.961 entre 1998 e 2016.

Esses dados trouxeram a preocupação para o sistema de saúde, o qual enfrenta o desabastecimento da penicilina benzatina, medicamento utilizado para combater a bactéria Treponema no caso de sífilis adquirida e também a sífilis congênita, ou seja, da mãe para seu bebê durante a gestação. Entretanto, essa escassez é global, e de acordo com o boletim, não somente no Brasil como em outros países, a falta da penicilina benzatina já ocorre desde 2014 devido à carência de matéria prima para sua produção. A infectologista Vanessa Strelow afirma que a falta de medicamento somado ao déficit de prevenção das doenças sexualmente transmissíveis é o que fez com que o número de casos aumentasse. “Está cada vez mais difícil encontrar o medicamento, principalmente na sua forma cristalina, usada para tratar bebês com sífilis congênita”, comenta.

Além disso, dados do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), entre 2013 e 2014, 55% das equipes que atendem a família no programa de Atenção Básica aplicam penicilina benzatina, pois o medicamento é eficaz para infecções ocasionadas por microorganismos sensíveis à penicilina G. Entretanto isso contribui para a falta do medicamento e diminui as chances de cura da sífilis.

A bactéria pode trazer sérios problemas no caso da evolução da sífilis adquirida. Os sintomas iniciais, denominados de sífilis primária, aparecem entre 10 e 90 dias, com o surgimento de uma ferida, chamada cancro duro, no local onde a bactéria se instalou. Não apresenta sangramento e dores e desaparece sozinha dentro de duas semanas. Strelow explica que o diagnóstico da doença é mais fácil nos homem. “Isso acontece pois a primeira fase da doença consiste na formação de uma lesão indolor no local de inoculação da bactéria”.

A sífilis secundária ocorre se não houver tratamento nos sintomas iniciais.  É o período o qual a bactéria invade todos os órgãos líquidos do corpo, fazendo com que apareçam manchas escuras, especialmente nas partes mais úmidas. Esse estágio também costuma desaparecer, e após um longo período, se não tratada, é desencadeada a sífilis latente, a qual não apresenta qualquer sintoma.

A sífilis terciária pode levar dez, vinte ou até mais anos para se manifestar. Nesse estágio o corpo estará suscetível a tumores expostos, ao comprometimento dos ossos e pode desencadear até mesmo sífilis cardiovascular e neurossífilis.

Os exames, no estágio inicial da doença, podem ser realizados através da ferida, diagnosticando a presença da bactéria Treponema. Se não tradada, nos próximos estágios será necessário o exame VDRL, o qual reage de acordo com a presença de anticorpos no organismo. Por ser uma doença silenciosa, muitas vezes os exames podem resultar em falsos negativos. Por esse motivo é necessário diferenciar a presença de exames reagentes e a reinfecção pela bactéria.

A cura da sífilis adquirida pode ocorrer nos primeiros estágios da doença e com o uso correto dos medicamentos, sendo restrito a pratica de relação sexual durante o tratamento. Embora a aplicação da penicilina benzatina consiga amenizar o estágio inicial da sífilis, o uso do preventivo é de extrema importância, pois a sífilis pode desencadear outras DSTs, como a AIDS, uma vez que o vírus HIV também contribui para evolução da sífilis.

Na sífilis congênita, a bactéria é transmitida via placenta para o bebê, sendo mais arriscado se a infecção for recente. Os riscos de aborto, parto prematuro ou até mesmo do bebê morrer ao nascer são grandes. A criança também corre riscos de má formação no cérebro, nos ossos e cegueira. Mesmo que não apresente esses sintomas, a sífilis pode aparecer durante a infância ou na fase adulta.

“A sífilis congênita pode provocar aborto, parto prematuro e até morte do bebê logo ao nascer”

Se houver uso correto do medicamento durante a gestação e, ao nascer o bebê, ele receber os tratamentos com antibióticos para a prevenção, as chances da sífilis congênita podem amenizar. “Não há nem o quo pensar nos riscos e benefícios do tratamento, tem que tratar”, afirma ginecologista Maria Letícia ao explicar que o tratamento é de extrema importância. Para a amamentação não há risco algum, pois não há contaminação através do leite materno.

Não se trata de uma doença simples, mas de uma doença que se manifesta silenciosamente, dando indícios de que está curada, pois os sintomas do estágio primário e secundário desaparecem sozinhos, assim como podem acusar resultados falsos negativos (30-47% segundo dados do Ministério da Saúde). Se houver qualquer indício da manifestação da bactéria, é de extrema importância ir ao médico, relatar se houve relação sexual desprotegida e o uso de drogas, pois elas podem acusar resultados falsos.

sifilis bezetacil - RGB

Lutando contra a epidemia

O Ministério da Saúde lançou uma campanha em outubro de 2016 para combater a sífilis congênita, mobilizando os profissionais da saúde a realizar exames de pré-natal para detectar a bactéria o mais cedo possível assim iniciar o tratamento. Além disso, campanhas nas redes sociais alertam sobre a importância da prevenção da doença.

Mesmo com a falta de penicilina benzatina, o Governo Brasileiro, providenciou emergencialmente 2,7 milhões de frascos com prioridade para a sífilis congênita.

O foco da campanha foram gestantes jovens e seus parceiros, alertando sobre a importância de iniciar o quanto antes o tratamento. Foram distribuídos folhetos, cartazes e divulgado um minidocumentário- Gestação Segura, Criança Saudável- o qual foi veiculado nas redes sociais, porém ainda se encontra disponível no YouTube.

O que é exame VDRL?

O exame VDRL, que significa Veneral Disease Research Laboratory, serve para diagnosticar a sífilis, assim como para acompanhar a doença de quem já esta com a infecção.  O exame é realizado através da coleta de sangue, e é necessário que seja feito antes de engravidar e a cada trimestre durante a gravidez.

Fonte: Revista tua Saúde

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